Quando você passa 30 dias viajando, as semanas passam a ter características definidas. A primeira é obviamente a da empolgação, quando é ótimo estar de férias e seu bolso está cheio e nada te preocupa.
A segunda, levada no embalo da primeira, é cheia de tranquilidade também. Porém, os últimos dias dessa semana, que completam a primeira quinzena, são o começo do primeiro contra-tempo: roupas completamente sujas.
No começo você consegue dar uma enganada, usa uma roupa dia sim/dia não, e tudo vai bem. No final da segunda semana, o mochileiro que viaja sem peso acaba se encontrando sem roupas limpas também. E aí é um tal de gastar sabonete e arranjar espaço no aquecedor pra secar as roupas que é uma loucura. A opção de lavar numa lavanderia, embora as vezes nem tão cara, dispende de tempo e transporte. Resumindo é um saco.
Aí vem a terceira semana, com roupas meio lavadas, sobrancelha de Frida e unhas de Zé do Caixão. E você anda pelas ruas e a única coisa que repara é que todo mundo a sua volta parece muito mais limpimho que você. Sendo que na Europa no inverno, isso provavelmente não é verdade (o cheiro da população prova essa tese).
Nesse momento de confusão, é muito comum também que alguém chegue pra falar com você e tenha que repetir duas ou três vezes, na sua própria língua, pra você finalmente conseguir processar o que foi dito.
Essa é a parte interessante pra mim. No começo dessa viagem, sabia distinguir o alemão, o inglês, o espanhol, o italiano, o francês, o japonês, o chinês e até se uma língua bizarra era eslava ou nóridica. Hoje, ouvir português foi confuso. Andando pelas ruas e ouvindo os outros turistas, parecia que a língua falada era só uma na verdade, uma mistura sem pé nem cabeça a la Torre de Babel.
Semana que vem, o fim da jornada. Volto aqui pra contar como foi, mas pelo que me lembro da última vez que passei 30 dias fora de casa, é a semana da falta do feijão com arroz.