10.5.07

Substitute for love


Tudo começou quando E.G. tinha 11 anos. Ela aprendeu na escola que alguns seres vivos tinham pseudópodes. Não eram exatamente pés, mas cumpriam bem a função. A professora explicou que pseudópodes era uma palavra que podia ser divida em duas, e a segunda parte podes queria dizer pés.

Encafifada com o significado do prefixo, E.G. começou a reparar que à sua volta ela tinha diversos exemplos de sua utilização. Nela mesma encontrava alguns. Era pseudotalentosa porque fazia artes e música; estudava em um colégio pseudobom, vez que era pseudointeligente porque tirava boas notas e mal abria o caderno. Tinha pseudoamigos, que no fundo não ligavam muito para o que ela falava.

E assim E.G. cresceu. Passou para o segundo grau, onde seu pseudointeresse por cinema e literatura a tornaram pseudointelectual, e seu pseudoconhecimento sobre política fez com que passasse por uma fase pseudosocialista. Na faculdade teve um pseudonamorado. Tinha uma relação extremamente passional com seus pseudoirmãos, e quando uma de suas pseudoirmãs engravidou, comprou uma lembrancinha para seu futuro pseudosobrinho.

Trabalhou anos em diferentes pseudoempregos. Nunca arranjou alguém que a amasse de verdade, logo, não casou e não teve filhos. Aos 42 adotou um pseudofilho para preencher o vazio. E continou assim, com substitutos até aos 82 anos, quando veio a falecer em decorrência de uma pseudoverdose de rémedios para dormir.

3.5.07

8 easy steps


Lista de coisas que me incomodam demais em mim:

5 - ter personalidade. Esse era um fator do qual me orgulhava, mas que ultimamente tem sido tão questionado pelo mundo ao meu redor que provavelmente é melhor eu ficar sem. E o fato do resto das pessoas estarem me incomodando tanto ultimante já demonstra que a força com que eu me sentia única já está mostrando sinais de cansaço.

4 - ter opinião formada sobre uma gigantesca gama de assuntos. Odeio, tem pavor, não quero mais. Outra característica que achava bem bacana, mas que com o passar dos anos tem se tornado cada dia mais complicada de se manter. É difícil ter paciência e força de vontade pra dar a sua opinião quando os outros não se importam muito com ela. Quando eu era mais nova era mais fácil.

3. ser competente no que eu faço. Não importa se é arrumando a casa, corrigindo uma prova ou fazendo um ofício, eu quero sempre pôr o máximo das minhas energias no trabalho que estou completando. Resultado: sempre acabo perdendo pra alguma criatura que não está nem aí pra profissionalismo. Essas pessoas que chegam atrasadas, fazem tudo bem mais ou menos e vão embora mais cedo. Nunca estão estressadas, nunca estão anciosas por um bom resultado, e por não levarem a sério nada além da roupa que estão vestindo sempre são consideradas mais simpáticas que você.

2. ser inteligente, ou pelo menos ter estudado bastante na vida. Sério, pra quê? Devia ter passado mais tempo matando aula.

1. perder meu tempo tentando descobrir o lado bom de pessoas que, geralmente, não têm um. Essa é a pior das minhas características. Vai ser a primeira a cair também. Chega de achar que apesar daquela pessoa parecer fútil, lá no fundo ela tem um bom coração. Não tem. Chega de pensar que o outro errou porque não teve oportunidade de aprender. Teve preguiça mesmo. Chega de acreditar que não foi por mal. Foi pura maldade.