Tudo começou quando E.G. tinha 11 anos. Ela aprendeu na escola que alguns seres vivos tinham pseudópodes. Não eram exatamente pés, mas cumpriam bem a função. A professora explicou que pseudópodes era uma palavra que podia ser divida em duas, e a segunda parte podes queria dizer pés.
Encafifada com o significado do prefixo, E.G. começou a reparar que à sua volta ela tinha diversos exemplos de sua utilização. Nela mesma encontrava alguns. Era pseudotalentosa porque fazia artes e música; estudava em um colégio pseudobom, vez que era pseudointeligente porque tirava boas notas e mal abria o caderno. Tinha pseudoamigos, que no fundo não ligavam muito para o que ela falava.
E assim E.G. cresceu. Passou para o segundo grau, onde seu pseudointeresse por cinema e literatura a tornaram pseudointelectual, e seu pseudoconhecimento sobre política fez com que passasse por uma fase pseudosocialista. Na faculdade teve um pseudonamorado. Tinha uma relação extremamente passional com seus pseudoirmãos, e quando uma de suas pseudoirmãs engravidou, comprou uma lembrancinha para seu futuro pseudosobrinho.
Trabalhou anos em diferentes pseudoempregos. Nunca arranjou alguém que a amasse de verdade, logo, não casou e não teve filhos. Aos 42 adotou um pseudofilho para preencher o vazio. E continou assim, com substitutos até aos 82 anos, quando veio a falecer em decorrência de uma pseudoverdose de rémedios para dormir.
Um comentário:
E. G. sabia que as coisas eram pseudo à sua volta? Creio que tenha experimentado o não-pseudo. Por isso mesmo ela poderia ter abandonado suas pseudíçes e curtido alguns momentos honestos, com prazeres reais e momentos de beleza única.
E. G. sempre pôde procurar momentos essenciais e puros.
Ela é quem define ser uma pseudópode ou ser uma andarilha satisfeita e feliz!
:-)
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