20.2.08

Rebellion (Lies)

Tava assistindo um seriado agora há pouco. História meio bobinha, sobre um cara que vira espião porque abre um email e faz o download de todos os dados da Segurança Nacional Americana na sua cabeça(!?!). Enfim, chama "Chuck" e eu particularmente acho bem divertido, afinal é um filminho sobre espiões, com um ator-nerd bonitinho, e uma historinha platônica bonitinha. Distração de, digamos, qualidade.
De qualquer forma, a história de hoje envolvia uma espécie de soro da verdade, que resulta na honestidade estúpida dos personagens. Antes de tomarem o antídoto, Chuck pergunta pra espiã que finge ser sua namorada se eles têm futuro juntos. Ela respira fundo e diz que não, mas mais tarde admite pra um terceiro colega que foi treinada a resistir ao dito do soro.
Ocorre que isso me fez pensar um pouco. Quanto de nossas respostas são resultantes do treinamento que temos, desde crianças, a dizer aquilo que vai nos expor menos?
Durante a fase de curiosidade na pré escola, somos eventualmente castrados por professores, colegas ou pais. Resultado, aos 23 anos respondemos que não temos nenhuma dúvida pro professor da faculdade, quando na verdade não entendemos nada do que foi ministrado nas últimas horas.
A mesma coisa serve pro lado crítico da nossa personalidade. Você ganha de presente no seu aniversário de 10 anos um disco de lambada da sua amiguinha, e quando sua mãe diz, "põe pra tocar filha", você responde "mas eu não gosto disso, mãe!". Peteleco na orelha e castigo. Pelo resto de sua vida, todos os presentes de grego que você ganhar vão ser acompanhados da seguinte frase: Nossa, amei! Eu queria muito um desses!
Somos treinados a esconder nossos sentimentos românticos desde o primeiro toco que tomamos. Não abrimos nossos corações e negamos até a última gota, porque tememos aquele toco, não é mesmo? Ou agimos ao contrário, aceitando envolvimentos que lá no fundo, não deveriam chegar a esse nível, mas coitada da pessoa que vai levar o toco.
A questão é que o treinamento acontece intensivamente e há tanto tempo, que nós mesmos já não sabemos qual é a verdade. Não sabemos reconhecer qualidades, dúvidas, sentimentos. As vezes sinto que sou tão desonesta, na tentativa de fugir do fracasso e arranjar desculpas, que já não sei mais nada sobre mim. Eu gosto mesmo de pimentão, ou só disse isso pra agradar a minha mãe? O livro que eu ganhei de Natal era bom mesmo, ou meu irmão ficaria triste se eu dissesse o contrário? Eu gosto mesmo de ler, ou é uma técnica pra ressaltar minha inteligência, já que não me acho bonita?

Eventualmente, nossas mentiras se tornam nossas verdades. Meio paradoxal isso.

2 comentários:

André disse...

Hum.
Nos últimos dias li sobre meditação e acredito que a solução seja por aí. Não que seja praticante, mas que o auto-conhecimento é essencial para descobrir "nossas verdades", tal qual como definido nesse post. Descobrir se um filme, livro ou brócolis te agrada é simples: experimente e sinta. Ouça uma música desconhecida sozinha e tire suas conclusões. Enfim, tão simples quanto fácil.

Uma outra palavra que me vem à mente é instinto puro, seu. Apesar de sofrermos influências externas, pro bem ou pro mal, acho que nada vai tirar esse primeiro pensamento.

Anônimo disse...

UAHUHAUAHUAH! "Mas eu não gosto disso" e peteleco na orelha foi ótimo. Lembro que aconteceu comigo algo do gênero quando eu tinha uns 8 anos e minha vó ligou pra me dar os parabéns pelo aniversário bem na hora que eu tava abrindo minha novíssima Barbie!! Aquela antiga sinceridade de infante me levou a resmungar, muito alto, ao lado do telefone: "ahhhh... bem agora! Que SACO!" HAHAHAHAHAHAHAHA!!
Peteleco na orelha, certeza!!