Ando com saudades de coisas que não têm mais volta. Queria a casa da minha avó lá de São Paulo. Ficar no pátio com a mangueira ligada sendo observada pelos gatos que queriam chegar nos potes velhos de margarina cheio de sobras que ela deixava pra eles. Tô sentindo falta daquele barulho de fundo da cidade que parecia ao mesmo tempo tão longe e tão perto. Do friozinho da sombra da árvore de pitanga. Do chão áspero de concreto que ralava meu pé.
Queria as tardes de sábado no salão de festa do meu amigo criando o mais novo curta merecedor de um Oscar. Montando cidades de Lego e vendo elas serem cuidadosamente desmontadas num tombo do mais estabanado. Fazendo videoclipes dublando músicas que jamais tinha ouvido.
Queria as tardes para matar aula do cursinho jogando War. Meus pais viajando e a minha casa virando um albergue. A tentativa frustrada de descobrir o que é Tequila. Os casos secretos dentro do meu grupo de amigos. As cartinhas entre as meninas falando, é claro, sobre os meninos. Faz falta pegar dois ônibus pra ir na casa que tinha piscina e cinema.
Queria o frio na barriga de toda vez que eu encontrava o menino que eu amei. Da surpresa da primeira vez que ele me beijou. Os dias em que eu pensei que ele me amava também. As coisas fofas que ele fazia sem perceber. Sinto falta até das vezes em que ele me partiu o coração.
Queria as festas da faculdade nos lugares onde eu jurava que nunca ia por o pé, mas ia do mesmo jeito. A venda insuportável de ingressos, que acabavam sempre na minha mão. As fofocas na segunda-feira sentada na cantina. Os comentários ácidos que faziam escorrer veneno no canto da minha boca e as risadas que quebravam a maldade.
Queria ser inocente mais uma vez e voltar acreditar que um dia as pessoas seriam iguais e todos teriam direito a tudo o que fosse necessário a uma vida digna. O tempo em que eu acreditava que conseguiria mudar o mundo. Em que estudar Direito era uma questão de honra e Direitos Humanos era o nome da minha matéria preferida.
Como a gente descobre o exato momento em que perdeu a inocência? O dia em que o preto e o branco passaram a ter milhões de tons de cinza entre eles. Me pergunto se é possível voltar a ser daquele jeito e ver o mundo de uma forma intensa, porém leve. Urge deixar de ser chata e começar a ver graça, mistério em tudo ao meu redor de novo.
4 comentários:
Está tudo aí!
Aí dentro!
E aqui também!
`bora criar outras memórias, minha filha!
Geeee... fazia tempo que eu não lia seu blog...
guria, adorei o que vc escreveu!
vc conseguiu me deixar com saudades de muita coisa que aconteceu: do prédio que eu morava, da bagunça com a piazada, da época do colégio (ainda era ginásio), das descobertas ...
é isso aí!!!
muito boooom!!!
bjo Feitoca
Geeee... fazia tempo que eu não lia seu blog...
Guria, adorei o que vc escreveu!
Vc conseguiu me deixar com saudades de muita coisa que aconteceu: do prédio que eu morava, da bagunça com a piazada, da época do colégio (ainda era ginásio), das descobertas ...
É isso aí!!!
Muito boooom!!!
Bjos Feitoca
Saudade nos faz reviver e acreditar que ainda é possível recriar os nossos dias e dar um ar de graça aos fatos corriqueiros.
Um dia a saudade será desse momento!
Postar um comentário